Qual é o plural para -ÃO?

Eu acho muito engraçado a reação que a maioria dos alunos tem mediante minha resposta à seguinte pergunta: "Gilson, qual é a regra do plural com o -ÃO em português?". O rostinho de desespero quando eu digo "Meus queridos, não há regra!" é realmente fascinante.

Eu cheguei a fazer algumas pesquisas sobre o assunto. Há poucos links na internet que abordam o assunto de forma clara e concreta. Tal explicação não foi encontrada em nenhuma gramática. Ainda não encontrei uma resposta precisa e eficaz sobre o assunto que já tenha sido publicada por algum veículo.


Por outro lado, eu achei uma grande coincidência com a regra do plural em espanhol. Nesse último, eu percebi que não há o "~" sobre nenhuma vogal, porém há exclusivamente sobre o "n", que inclusive é uma outra letra ("n" e "ñ" são distintos, são duas letras independentes). O "ñ" para os hispanófonos representa o "nh" do português e o "gn" do italiano e francês. Com essa minha descoberta bem medíocre, percebi que todas as palavras em português que acabam com "ão", têm três possibilidades em espanhol: ou acabam com "an" (com acento se não for monossílabo), "on" (com acento se não for monossílabo) ou "ano". Alguns exemplos:


o pão (português) - el pan (espanhol); o cão (p.) - el can (e.); o cidadão (p.) - el ciudadano (e.); o avião (p.) - el avión (e.).


Se observarmos bem, concluímos que o "~" em português é uma consequência de uma evolução do "n" nasalado do espanhol. Portanto, se colocarmos o plural em todas as palavras acima no português, haverá variações no espanhol de "-anes" (como "panes", em português, então "pães"), "-anos" (como "ciudadanos", em português "cidadãos") ou "-ones" (como em "aviones", em português "aviões"). Aqui está a minha conclusão para justificar as variações do português no "-ãos", "-ães" e "-ões".


Confesso que não encontrei ainda nenhuma exceção a essa minha descoberta. Se houver, espero que alguém de diga o quanto antes. Acrescento que, para ensinar o português, torna-se muito melhor conhecer a estrutura ortográfica e gramatical de outros idiomas.


Isso facilita entender os alunos de diversas nacionalidades (que têm realidades linguísticas, fonéticas e gramaticais diferentes) assim como colocar na cabeça de todos (inclusive da nossa como formador) que o português não é mais complicado que outro idioma desse planeta: cada um com sua dificuldade.



Se algum aluno disser "Mas isso é muito complicado!", pode encher a boca, cara professora, caro professor, e falar "Mas qualquer idioma tem sua complicação: no inglês, por que "break" não se pronuncia como "breakfast"? Em francês, por que fala-se "le héros" e não "l'héros" (como "l'heure")? Em espanhol, por que diz-se "el água" e não "la água" (já que é uma palavra feminina)?".


Nenhum aluno vai conseguir responder a essa sua pergunta. Se eles fizerem a pergunta em questão é porque o estudante não tem conhecimento profundo de nenhum idioma (nem mesmo do seu!).


 
Gilson Lopes
2010_04_14