MINHA CHEGADA A GENEBRA (CH)

No finalzinho do inverno, mais precisamente no dia 6 de fevereiro de 2002, piso em solo helvético sem planos específicos para o meu futuro. Eu tinha 23 anos de idade.

Fui acolhido em Genebra pela minha mãe, Eliane Lopes, com direito a todas as regalias possíveis. Esse fator facilitou-me bastante a vida, além do fato de ela morar sozinha num "studio" sub-locado. O pior dos problemas de um estrangeiro que põe os pés nessa terra já estava resolvido: a moradia.
 
Como andar pela cidade, como comprar o "abonamento mensal" para o "bus", ir ao supermercado "Migros" porque é mais barato que "Coop", onde e quais cartas telefônicas comprar para ligar para o Brasil, como se vestir para não ficar gripado, fazer silêncio absoluto a partir das 22h para não incomodar os vizinhos, conhecer a "feira da pulga" (le marché aux puces) em Plainpalais, pegar o jornal gratuito GHI nas quartas-feiras diretamente no edifício deles (também em Plainpalais) ou na "boîte aux lettres" de onde moramos para ver os anúncios de todos os gêneros, qual o melhor ângulo para tirar foto do "Jet d'Eau" e do "Lac Léman", observar e babar pela cor das águas do Rio Rhône, ... enfim, um bombardeio de informações de alta precisão me foram transmitidas por osmose, sem que eu me desse conta.

Começo, então, a me mexer: preparo o dossiê a fim de dar entrada na Universidade de Genebra para estudar Traduções e Interpretações de Idiomas, inscrevo-me para o exame da Alliance Française nível B2 (intermediário avançado) intitulado "Diplôme de langue", coloco anúncios gratuitos para fazer intercâmbio cultural com universitários, estudo francês em casa diariamente (média de 8 horas) por meio de televisão (programa Jerry Springer Show era meu favorito) paralelamente com leituras / interpretações de textos do GHI e começo a praticar o Budismo Ortodoxo (ensinamentos desenvolvidas por Nichiren Daishonin) na antiga residência da queridíssima família Stettler.

Os resultados iniciais foram desastrosos: a Universidade recusou minha candidatura (por ter feito curso técnico de Turismo, não horas suficientes de estudos em Matemática, Biologia, Física e Química) e fui reprovado no exame da Aliança Francesa (nota baixa da média exigida, nem tive direito ao certificado com o comentário "sans mention", equivalente a "sem comentários" ou "sem nota"). O mundo caiu sobre mim, mas a teoria do caro cantor e compositor cearense Falcão não me abandonou: "pior seria se pior fosse".

Por razões familiares, planejou-se meu retorno para o Brasil em julho do mesmo ano. Até chegar o momento de minha viagem, minhas reflexões concentraram-se apenas ao que precisava ser resolvido em Recife e nada mais. Cogitava-se minha volta para Genebra, mas nenhuma expectativa foi por mim criada para dar a volta por cima. Encontrava-me, às vezes, com a seguinte ideologia vagando em minha mente: "sofrimento não existe, a minha forma de raciocinar é que deve ser mudada", ou até mesmo que os dois desastres iniciais em território suíço foram os primeiros de uma série, ou talvez os últimos. A dúvida rodava em minha cabeça: "devo retomar minha vida profissional em hotelaria?".


Pego, então, o avião em Zurique em direção ao "País Tropical", mais precisamente à "Veneza Brasileira" em julho de 2002.
Gilson Lopes
2011_08_16

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